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Quartos sem janela, infiltração e baratas: vistoria aponta problemas em pousadas de rede que pegou fogo e deixou 11 mortos no RS

Documento da Prefeitura de Porto Alegre constatou que unidades da Pousada Garoa têm risco à saúde e à segurança dos moradores. Ex-secretário sustenta que ...

Quartos sem janela, infiltração e baratas: vistoria aponta problemas em pousadas de rede que pegou fogo e deixou 11 mortos no RS
Quartos sem janela, infiltração e baratas: vistoria aponta problemas em pousadas de rede que pegou fogo e deixou 11 mortos no RS (Foto: Reprodução)

Documento da Prefeitura de Porto Alegre constatou que unidades da Pousada Garoa têm risco à saúde e à segurança dos moradores. Ex-secretário sustenta que local que incendiou possuía relatório atualizado. Confirmada 11ª morte por incêndio em pousada de Porto Alegre Vistorias realizadas por equipes da Prefeitura de Porto Alegre em unidades da Pousada Garoa, em Porto Alegre, apontaram uma série de problemas estruturais e elétricos. O documento identificou quartos sem janela, extintores vencidos, infiltração, sujeira e presença de baratas. A repórter Adriana Irion, de GZH e que integra o Grupo de Investigação da RBS (GDI), teve acesso ao relatório. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp A rede é a mesma que foi atingida por um incêndio, em abril, que deixou 11 mortos. O cenário descrito contradiz a defesa que a Prefeitura fez das condições das pousadas na ocasião. O então secretário do Desenvolvimento Social, Léo Voigt, afirmou, à época, que a Pousada Garoa operava de forma "totalmente regular". "Barata e rato têm no entorno das nossas casas todas. Para a assistência social, as pousadas eram vistoriadas e as condições eram dignas, corretas e adequadas", afirmou Voigt em entrevista ao Bom Dia Rio Grande, da RBS TV, no dia 30 de abril. Lixo e móveis velhos: veja como são pousadas da rede Confirmada 11ª morte após incêndio na Pousada Garoa Em nota enviada na manhã desta quarta-feira (3), o ex-secretário Léo Voigt afirmou ter recebido com "surpresa" a constatação de que "várias unidades deveriam ser alvo de readequações e algumas, inclusive, interditadas por risco diante de um incêndio". Ele acrescenta que "não era o caso da unidade da Farrapos, que foi alvo de um crime e possuía relatório atualizado de vistoria". O advogado Lino Troes, que representa a rede de pousadas, disse que "neste momento, a defesa prefere não se manifestar". Registros após vistoria em unidades da Pousada Garoa Divulgação/Prefeitura de Porto Alegre Moradores contam que Pousada Garoa não tinha condições adequadas As vistorias foram feitas por uma força-tarefa do Executivo municipal entre 29 de abril e 3 de maio. De 23 unidades, apenas quatro não foram analisadas. Entre elas, a que se incendiou, devido à interdição do prédio. O atual secretário de Desenvolvimento Social, Jorge Heleno Brasil, disse que, em virtude das vistorias, a Prefeitura não irá renovar o contrato com a rede de pousadas. Fiscalizações em pousadas eram avisadas por servidora Moradores de pousada de rede que pegou fogo são despejados O relatório atesta que a maioria dos endereços visitados tem "inconformidades ligadas às condições higiênico-sanitárias precárias de salubridade e habitabilidade, de acordo com as legislações vigentes, com riscos à saúde e à segurança das pessoas". Diz ainda que, em função do risco à saúde e segurança, cinco estabelecimentos sofreram interdição cautelar e sumária. Ao longo do relatório de vistoria, há mais considerações sobre as condições precárias: Padronização interna dos ambientes intitulados "quartos" com divisórias em madeira, portas com cadeados, maioria dos quartos sem iluminação e/ou ventilação precária, corredores muito estreitos nos quais muitos deles somente passa uma pessoa por vez; Em uma parte das pousadas a quantidade de banheiros é insuficiente para o número de residentes e, também, em sua maioria sem manutenção preventiva, com descarga estragada e em más condições higiênico-sanitárias; Alguns locais apresentaram inclusive reservatório de água parada, o que caracteriza um risco de proliferação de mosquito e dengue; Constatou-se descaso com os ambientes das unidades da Pousada Garoa e com os moradores do local. Fachada da pousada que foi atingida por incêndio em Porto Alegre Pâmela Rubin Matge/RBS TV Um trecho do relatório também faz um comparativo entre imagens usadas pela rede de pousadas em propagandas e foto captadas dentro dos imóveis. Quanto a questões administrativas, foi registrada a falta de recepcionistas na maioria dos endereços e que, onde havia algum funcionário, este informou não ter vínculo empregatício. Nas considerações finais, a equipe escreveu que, por causa das fragilidades encontradas, a sugestão era a de elaboração de legislação municipal regulamentando "as condições mínimas higiênico-sanitárias e de habitabilidade". Também foi destacada a necessidade de ser revisto o grau de risco da atividade "pensões-alojamentos", hoje enquadrada em nível I. Nesse grau, há dispensa a solicitação de qualquer ato público para a liberação, conforme previsto em decreto municipal. Relembre o caso A Pousada Garoa abrigava pessoas em situação de vulnerabilidade social. O incêndio ocorreu em uma das unidades, na Avenida Farrapos. O prédio fica entre as ruas Barros Cassal e Garibaldi, a poucos metros da Estação Rodoviária. O incêndio começou por volta das 2h30. O fogo se espalhou rapidamente pelos quartos da pousada. Para fugir das chamas, algumas pessoas se jogaram das janelas do segundo e do terceiro andares. Os bombeiros encontraram as 10 vítimas em cômodos da pensão. Sobreviventes relataram como conseguiram escapar das chamas. O vendedor ambulante Jorge Antônio Ferreira contou que acordou com "estouros, assim que iniciou o fogo". Ele conseguiu resgatar a esposa do prédio. O local, que é privado, recebia pessoas em situação de vulnerabilidade social. Das 30 pessoas que estavam no espaço no momento do incêndio, 16 tinham a estadia custeada pelos cofres públicos. A empresa teve contrato renovado com a Prefeitura de Porto Alegre em dezembro de 2023 por mais 12 meses, ao custo de R$ 2,7 milhões. Segundo os bombeiros, a pousada operava irregularmente, porque não tinha Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) protocolado. A Prefeitura de Porto Alegre afirmou que a documentação da empresa dona da pousada junto ao município estava em dia e que havia autorização para a operação como hospedagem. Em junho, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) encaminhou os laudos à Polícia Civil. Não foram divulgados os resultados. O delegado responsável pelo caso, Daniel Ordahi, afirma que segue fazendo diligências e que não há previsão para conclusão do inquérito. Quarto de pousada da rede Garoa em Porto Alegre Reprodução/RBS TV Nota do ex-secretário Léo Voigt De fato, a vistoria nos 24 endereços da Pousada Garoa por mim instaurada na SMDS, com representantes de diferentes órgãos municipais, constatou, para nossa surpresa, que várias unidades deveriam ser alvo de readequações e algumas, inclusive, interditadas por risco diante de um incêndio. Não era o caso da unidade da Farrapos, que foi alvo de um crime e possuía relatório atualizado de vistoria. A política pública é um processo permanente aperfeiçoamento; não recomendaria a descontinuidade dos serviços e sim um Termo de Ajustamento de Conduta à PMPA e a empresa Garoa. A extinção dessa oferta significará que centenas de pessoas abrigadas retornem a viver nas ruas e aqueles que nela estão, não serão acolhidas. Além de se retirar uma importante oferta do sistema de Assistência que é sempre insuficiente perante a demanda. Já houve recente manifestação pública dos residentes reivindicando a permanência dos serviços. Sobre salubridade, há que levar em conta que a Pousada não tem serviço de camareira. O residente é responsável por seu quarto, dele possuindo a chave; muitas vezes desenvolve no seu interior atividades de sustento econômico como triagem de materiais. VÍDEOS: Tudo sobre o RS